A QUALIDADE DE VIDA RELACIONADA À INCONTINÊNCIA URINÁRIA E O CONHECIMENTO DAS PACIENTES ENCAMINHADAS À CIRURGIA DE SLING ACERCA DO TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO UROGINECOLÓGICO


SILVA, F. K. S. Acadêmico do Curso de Graduação em Fisioterapia – Faculdade Ingá, Maringá - PR
OGNIBENI, L. C. R. Docente da Disciplina de Ginecologia e Obstetrícia do Curso de Graduação em Fisioterapia – Faculdade Ingá, Maringá - PR

INTRODUÇÃO
Conforme a Sociedade Internacional de Continência Urinária, a incontinência urinária (IU) é definida como qualquer perda involuntária de urina em horas e locais inadequados, que provoca desconforto suficiente para gerar um problema social, higiênico e objetivamente demonstrável, ameaçando sua autoestima levando ao isolamento, depressão e má saúde (HIGA et al, 2010; BARACHO, 2002; CESTARI, et al, 2011). Estima-se que mais de 200 milhões de mulheres no mundo convivam com esta disfunção, que implica em limitações nas atividades diárias e na qualidade de vida (QV) das pacientes acometidas (HIGA et al, 2010).
A IU pode ser de esforço, que ocorre durante esforços físicos; pode ser de urgência ou vesical, quando ocorre um desejo imperioso de urinar, sendo acompanhado de contratura do detrusor ou ainda mista, quando ocorre a associação dos dois sintomas de incontinência (CESTARI et al, 2011; BARACHO, 2002).
Há várias formas de tratamento da incontinência, podendo ser conservador, cirúrgico ou combinado. Conservador: perda de peso, fisioterapia, uso de cones vaginais e medicamentoso. Cirúrgico: Por deslocamentos, útero fora do posicionamento, alterações de tamanho por processos neoplásicos ou prolapso genital. Combinado: Ambos procedimentos. (POLDEN; MANTLE, 2002; MATHEUS et al, 2006; BARACHO, 2002). Uma das cirurgias mais utilizadas é a de sling, podendo ser utilizado materiais orgânico ou sintético. A técnica estabiliza a junção uretrovesical e dá um novo suporte para a uretra, facilitando o funcionamento do seu mecanismo interno (MARTINS et al, 2000).
Considerando-se os custos humano e financeiro e os riscos inerentes ligados à cirurgia, é de bom senso oferecer às pacientes um tratamento fisioterapêutico especializado, antes que a cirurgia entre em cogitação, ou enquanto as pacientes estejam aguardando a cirurgia, o tratamento instituído prévio à cirurgia irá ser lucrativo para certas mulheres, como por exemplo, aquelas com tórax em mau estado de saúde, má postura, dor nas costas, base pélvica fraca ou debilidade geral (POLDEN; MANTLE, 2002; GROSSE; SENGLER, 2002).
Diante das diversas alterações sociais, pessoais e emocionais das mulheres frente à perda urinária, é relevante avaliar a QV destas mulheres, valorizando assim a opinião do paciente sobre sua própria condição de saúde (ABREU et al, 2007).
Visto que a IU trás sérias complicações sociais e emocionais, inclusive limitações físicas, na última década foram elaborados vários questionários na área de disfunções miccionais, destacando o King’s Health Questionnaire (KHQ), que avalia a qualidade de vida da pessoa com IU (FONSECA et al, 2005; TAMANINI, 2004).

OBJETIVOS
Baseado na problemática, o presente estudo teve como objetivo avaliar a QV relacionada à incontinência e o conhecimento das pacientes encaminhadas à cirurgia de sling, acerca do tratamento fisioterapêutico uroginecológico.

METODOLOGIA
Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de ética e Pesquisa em Seres Humanos da Faculdade Ingá, em Maringá Pr. Para os critérios de inclusão do estudo foram selecionadas mulheres com idade acima de 30 anos, todas apresentando quadro de IU e encaminhadas para cirurgia de sling no Hospital Memorial de Maringá-PR. Foram excluídas do estudo as mulheres com comprometimento neurológico associado, que as impediam de responder os questionários de forma cognitiva.
As participantes receberam o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, onde foi exposto o objetivo da pesquisa, bem como sua metodologia e liberdade do indivíduo em participar ou não da mesma. Todas aceitaram e assinaram o termo de consentimento.
A presente pesquisa se caracterizou como um estudo de campo, do tipo transversal, quali-quantitativo de caráter descritivo. Participaram do estudo 10 mulheres encaminhadas à cirurgia de sling para tratamento de IU no Hospital Memorial de Maringá.
As participantes preencheram seus dados de identificação, composto por nome e idade e responderam a algumas questões pré-estabelecidas. Os dados foram coletados no período de Fevereiro a Junho de 2012, em datas e horários previamente agendados pelas participantes.
O presente estudo contou com aplicação do questionário de QV na IU, através do instrumento King`s Health Questionaire (KHQ), composto por trinta perguntas distribuídas em nove domínios. O escore de QV, varia de 0 a 100, considerando-se que quanto maior o número obtido, pior a qualidade de vida.
O segundo instrumento utilizado para avaliar o conhecimento das pacientes acerca da fisioterapia uroginecológica no tratamento da IU, foi um questionário elaborado pela pesquisadora, composto por 5 perguntas objetivas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Descrição da amostra
Participaram deste estudo 10 mulheres, cuja á idade variou entre 34 e 63 anos, apresentando uma média de 47,7 ± 8,0 anos. Destas, 6 mulheres enquadraram-se na faixa etária entre 40 e 49 anos.
Resultado Questionário de Fisioterapia Uroginecológica

DISCUSSÃO
O resultado encontrado na faixa etária, aproxima-se com o descrito por Figueiredo et al (2008), em que avaliaram 63 mulheres no Serviço de Fisioterapia Uroginecológica, onde 81% tinha idade entre 40 e 59 anos, encontrando maior prevalência nesta faixa etária. Porém, segundo Lopes em CESTARI et al (2011), a IU atinge mulheres com uma faixa etária bem avançada, pois a incidência da IU aumenta com a idade; porém são vários os fatores que interferem além da idade. Para Guarisi (2001), o desenvolvimento da IU de esforço está relacionado com a raça branca, obesidade, partos vaginais, deficiência estrogênica, condições associadas a aumento da pressão intra-abdominal, tabagismo, doenças do colágeno, neuropatias e histerectomia prévia.
Qualidade de vida das entrevistas pré – cirúrgica
Para Abreu et al (2007), em seu estudo com 12 idosas incontinentes, no qual avaliou sua QV, concluiu que a saúde geral das pesquisadas estava relacionada ao comprometimento gerado pela IU, provocando uma péssima saúde incluindo a perda da autonomia. E de acordo com Higa et al (2010), a IU representa para as mulheres brasileiras um impacto sobre a vida social e o bem-estar. Conviver com esse problema faz com que a mulher vivencie constantes sentimentos, muitas vezes negativos, que podem levá-las a tristeza e depressão. Segundo Franco et al (2011), compromete a vida doméstica, ocupacional e física, de 15 a 30% das mulheres de todas as idades.
Com isso, as mulheres incontinentes acabam abandonando as atividades físicas, caindo no sedentarismo e ficam expostas ao surgimento de outras doenças, além disso, a atividade física tem efeitos positivos no aspecto emocional das pessoas. (CAETANO; TAVARES; LOPES, 2007).
Borges et al (2009), diz que independente do tipo da IU, os sintomas que essas pessoas têm podem levá-las a ter vários efeitos negativos em sua vida, com relação à autoconfiança, a auto percepção e as atividades sociais. E relata que, 63% das pacientes estudadas por Rett, sentiam-se cansadas por não terem um bom sono devido ao fato de terem que acordar durante à noite para urinar, o mesmo relatado de boa parte das entrevistadas nesta pesquisa.
Atuação fisioterapêutica uroginecológica
A fisioterapia demonstra ser um dos métodos mais barato e muito eficaz no tratamento da IU. Estudos demonstram que para prolapso até grau 2, o tratamento fisioterapêutico demonstra ser eficaz. (FITZ et al, 2012; KAKIHARA; SENS; FERREIRA, 2007).
Dedicação (2008) mostra que 74,19% das mulheres acometidas por IU de esforço e 50% das acometidas pela IU mista, já haviam sido submetidas a algum tipo de intervenção cirúrgica para o tratamento da incontinência, mostrando que a taxa de insucesso da cirurgia é alta, devido aos relatos de recidiva. Por este fato se faz necessário que se anteceda o tratamento conservador, na tentativa de minimizar e ou recuperar de forma geral, as mulheres incontinentes.

CONCLUSÃO
Este estudo demonstrou o quanto a IU afeta a qualidade de vida das mulheres, levando a várias limitações físicas e sociais em suas atividades de vida diária e ocupacional, sem contar as complicações e os constrangimentos em suas relações pessoais, comprometendo inclusive seu estado emocional, gerando ansiedade, crises nervosas e irritação seguida de stress emocional, devido ao cansaço físico pela perda de sono e falta de energia. Em alguns casos as complicações levaram as pacientes à adoção de medidas radicais, diante da gravidade dos problemas apresentados, gerando a necessidade da utilização de protetores higiênicos, diminuição da ingestão de líquidos, troca de roupas intimas em determinadas ocasiões e alguns momentos de preocupação com o constrangimento de estarem exalando odor de urina.
Devido a esses problemas e sabendo da eficácia do tratamento conservador, se faz necessário que os fisioterapeutas divulguem este trabalho de especialidade em uroginecologia, tanto para os profissionais da mesma área, como para os médicos que atuam na área de urologia para que possam encaminhar as pacientes para o tratamento fisioterapêutico, como primeira opção de tratamento antecedendo as cirurgias, visto que as cirurgias geram custos financeiros elevados e expõe as pessoas aos riscos de complicações cirúrgicas.
De modo geral, a fisioterapia uroginecológica promove benefícios a muitas pessoas, tanto na promoção quanto na prevenção e recuperação da saúde, melhorando e devolvendo a QV das pessoas acometidas pela IU.
Portanto, tais resultados reforçam a necessidade de novas pesquisas, mais trabalhos devem ser publicados na literatura que possam melhorar o conhecimento dos profissionais de saúde relacionados ao problema facilitando a busca em ampliar seus conhecimentos a respeito do assunto, visando melhorar os serviços de atenção primária e secundária de saúde, organizar equipes multidisciplinares no atendimento às mulheres portadoras de IU.
Para tanto se faz necessário oferecimento de condições alternativas e preventivas de atendimento, acolhendo e individualizando, tanto no tratamento físico, como no que diz respeito aos aspectos emocionais e psicossociais das pacientes.
 

REFERÊNCIA
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